“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo..” (Ap 3.20)
O versículo mencionado é freqüentemente utilizado de maneira errônea para evangelizar. Ele foi dirigido originalmente “Ao anjo da igreja em Laodicéia …”(Ap 3.14), logo, trata-se de uma carta escrita e destinada a crentes; aos cristãos mornos, com quem o Senhor está completamente desgostoso, a ponto de vomitá-los de sua boca (Ap 3.16); aos filhos que o Senhor, por causa do seu amor a eles, repreende, disciplina e exorta a serem zelosos e arrependidos (Ap 3.19). São a esses a quem o Senhor disponibiliza-se a entrar em sua casa e cear com eles. A passagem não é dirigida originalmente a ímpios, réprobos ou perdidos.
A utilização incorreta da passagem de Apocalipse 3.20 – que fala sobre santificação – para ensinar justificação é indesculpável. A justificação é diferente da santificação. A santificação é interna e experimental; a justificação é objetiva e legal. A justificação é instantânea e imutável; a santificação é gradual e progressiva. Muitos dos que usam este versículo arbitrariamente conhecem seu verdadeiro significado; todavia, por causa daquilo que chamam de “sucesso na evangelização” eles persistem no erro. Visto que este abuso das Escrituras é tão sério e prejudicial às pessoas, torna-se importante oferecer um exemplo englobalizante. Com freqüência, ouvimos o seguinte:
“Deixe Jesus entrar no seu coração, só você pode abrir, pois a tranca fica na parte de dentro, ele está dizendo: Estou aqui, à porta, batendo, me deixe entrar, estou esperando!”. O Senhor Jesus, que é completamente santo, não está à espera de entrar em qualquer coração pecaminoso. Ele ordena que todos os eleitos, em todos os lugares creiam nele. É a fé exclusivamente em Cristo que salva e não qualquer processo sutilmente apresentado em lugar dela. O Senhor em quem cremos é aquele “que faz todas as cousas conforme o conselho de sua vontade” (Ef 1.11) não conforme a minha disposição de abrir ou não a porta para que entre. Usar deste tipo de apelo na evangelização é caçoar do evangelho e de Deus. São oportunas aqui as palavras do apostolo Paulo: ”Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6.7)
O servo do Senhor não pode enganar nem ser enganado, deve apenas repetir imperativamente as palavras de Jesus aos seus que ainda se encontram perdidos, “arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). O cristão que estuda a Escritura e ora, evangeliza de maneira simples, sem engano ou confusão de palavras. Rev. Ronaldo Bandeira Henriques.

