SALVAÇÃO NÃO É TRANSAÇÃO

A prática comercial controla grande parte de nossa atividade diária. Tudo tem seu preço, nada é de graça, dar para receber. Os instrumentos mudam, mas a antiga natureza da barganha ou troca permanece. A força desta cultura é tamanha que influencia perniciosamente até mesmo a pregação do evangelho. Faz dos templos das Igrejas um mercado e das pregações um verdadeiro balcão de anúncios. Vejamos um dos mais comuns:

“Dê a sua vida a Jesus, para que seja salvo” – este é um ensino tortuoso por várias razões, das quais citaremos duas:

Primeira, a vida eterna é um dom gratuito: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8-9) “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 6.23) Uma pessoa não dá nada em troca de um dom gratuito. Deus outorga este dom gratuito quando coloca a pessoa, em Cristo Jesus, na condição de salvo. Juntamente com o dom da salvação, Deus outorga o dom da fé, para que a pessoa creia que isto é o que ele realmente fez (João 5.24,25). O pecado é aquilo que causa separação entre Deus e o homem (Romanos 3.23). A graça nos une a Deus através do sacrifício vicário de Jesus Cristo na cruz. Gratuitamente!

Segunda, frases tais como “entregue sua vida a Jesus” pressupõem, erroneamente, que a pessoa tem algo digno para oferecer a Deus e troca da salvação. Pessoas espiritualmente mortas não podem oferecer qualquer coisa que as salvará de seus pecados. Visto que o homem está morto em pecados, Jesus Cristo deu a sua vida em favor dos pecados de seu povo. Jesus “entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,” (Gálatas 1.4). Não existe na escritura versículo que afirme ou ensine que uma pessoa perdida e espiritualmente morta “dá” alguma coisa, inclusive sua própria vida para que seja salva.

Se ensinamos alguém a “dar” sua vida a Jesus, para que seja salvo, ele pode imaginar que tem de dar seu culto, seu tempo, suas obras, seu dinheiro e etc., para ser salvo. Isto pode levar a pessoa a um evangelho de obras que jamais pode salvar. Ser salvo não é uma transação, pela qual a pessoa dá algo a Jesus, para ser salva. Uma pessoa é salva exclusivamente pela graça de Deus, por meio da fé em Cristo – e nada mais.

O evangelho não é enaltecido e Deus não é glorificado por nos dirigirmos aos sábios do mundo e lhes dizermos que “dêem suas vidas a Jesus” ou que “podem ser salvos, por aceitarem a Cristo como seu salvador pessoal”. O arrependimento é necessário, mesmo que psicologicamente seja desaconselhável, no entendimento dos profissionais do mercado. O arrependimento é tão essencial à fé salvadora, que tal fé não se caracteriza sem ele. A convicção de pecado é a primeira obra do Espírito Santo na vida do perdido (João 16.8). Jesus veio ao mundo para salvar “o seu povo dos pecados deles.” (Mateus 1.21) A todos os seus eleitos em todas as épocas Deus não oferece uma troca ou qualquer tipo de transação. Deus “notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;” (Atos 17.30) Rev. Ronaldo Bandeira Henriques.