Condenado à morte por crucificação, “como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca” (Is 53.7). Carregando sua própria cruz, até que Simão, um cirineu, fosse forçado a levá-la (Mc 15.21), conduziram-no pela via crucis até o “Gólgota, que significa lugar da Caveira” (Lc 27.33) e ali o crucificaram.
Pouco a pouco a multidão foi-se raleando. Finalmente, caiu o silêncio e chegou a escuridão – trevas, talvez porque olho algum devia ver, e silêncio, porque língua alguma poderia contar a angústia de alma que o Salvador sem pecado agora sofria. No nascimento do Filho de Deus houve luz à meia-noite; na morte do Filho de Deus, houve trevas ao meio-dia (Lc 2.8,9/23.44).
Parece que a escuridão durou três horas. Pois foi à hora terceira, 9h da manhã que ele foi crucificado, e à hora sexta, 12h ou meio-dia que a escuridão cobriu a toda a terra, e à hora nona, 15h que, emergindo das trevas Jesus clamou em alta voz em aramaico: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.43/Sl 22.1). Depois de proferir palavras de segurança a um criminoso arrependido crucificado ao seu lado, clama em alta voz dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito! E, dito isto expirou”. (Lc 23.46) Sem muitos detalhes assim foi a última hora. “Todas as horas ferem, mas a derradeira mata.”
Trinta e seis horas mais tarde, Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Aquele que havia sido condenado à morte em nosso lugar, foi publicamente vindicado em sua ressurreição. Foi a demonstração decisiva de Deus de que Jesus não havia morrido em vão.
A crucificação apresenta um quadro explicativo. Explica a morte de Jesus tornando em relato científico apropriado os dados disponíveis. Explica a importância central que Jesus atribuía à sua morte, porque ele instituiu a ceia a fim de comemorá-la, e como, mediante a sua morte, ratificou a nova aliança, com sua promessa de perdão. Explica a sua agonia de antecipação no jardim, sua agonia de abandono na cruz, e sua reivindicação de ter decisivamente realizado a nossa salvação. Todos esses fenômenos tornam-se inteligíveis se aceitarmos a explicação que Jesus deu aos seus apóstolos de que ele mesmo levou os nossos pecados em seu corpo no madeiro.
Em suma a crucificação reforça três verdades acerca de nós mesmos, acerca de Deus e acerca de Jesus Cristo: Primeira, nosso pecado é extremamente horrível. Nada revela a gravidade do pecado como a cruz. Segunda, a maravilha do amor de Deus vai além da compreensão. É preciso que o coração seja duro e de pedra para não se comover face a um amor como esse. Seu nome correto é graça, que é o amor aos que não o merecem. Terceira, a salvação de Cristo é um dom gratuito. Ele a comprou para nós com o alto preço de seu próprio sangue.
Assim, a mesma cruz de Cristo que é o fundamento de uma salvação gratuita, é também o poderoso incentivo para uma vida mais santa. Somente desta maneira damos prova de que entendemos a crucificação de Jesus Cristo. Rev. Ronaldo Bandeira Henriques.